Inflação registra maior alta em quase 10 anos no Brasil

   A inflação oficial extrapolou as expectativas mais pessimistas do mercado financeiro em fevereiro. A alta de 1,22% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) levou a taxa acumulada em 12 meses a distanciar-se ainda mais do teto de tolerância do governo, alcançando 7,70%, maior patamar desde maio de 2005, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ontem.
  Economistas afirmam que a meta de inflação foi abandonada em 2015 e revisam para cima suas previsões para o IPCA do ano. “A meta já foi perdida. O Banco Central vai ter que explicar o que o levou a não cumprir a meta (de 4,5%), apesar da tolerância de 2 pontos porcentuais (até 6,5%). Estamos com uma previsão de 7,4% de inflação em 2015, mas já começamos a ouvir que pode chegar a 8%”, disse o economista Marcel Caparoz, analista da RC Consultores.
  Em fevereiro, a elevação dos impostos sobre a gasolina se refletiu num aumento para o consumidor de 8,42%, um quarto do IPCA do mês. “O impacto dos impostos foi muito forte e pesou nas bombas. Em consequência, pesou no bolso do consumidor, até mais do que se poderia prever”, ressaltou a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Diesel e etanol também ficaram mais caros, assim como as mensalidades escolares, energia elétrica, automóvel novo e ônibus urbano.
Combustíveis estão entre os itens que têm pesado mais no bolso

Energia

  Em março, a inflação voltará a incomodar. O aumento na conta de luz exercerá nova pressão sobre o orçamento das famílias, junto com outros itens monitorados pelo governo. “No mês de março, já estão previstos vários aumentos importantes, de itens que têm um peso significativo no orçamento das famílias. O principal deles é energia elétrica, que já foi reajustada em todas as regiões metropolitanas não só em termos de tarifas como também na parcela extra que é a bandeira tarifária”, apontou Eulina.
  A partir de 2 de março, entrou em vigor o reajuste médio de 80% no valor da parcela da conta de luz referente à bandeira tarifária (que repassa ao consumidor o custo maior pelo acionamento de usinas térmicas): passou de R$ 3,00 para R$ 5,50 por 100 kw consumidos.
  “Só o aumento na conta de luz fará a inflação de março partir já de 1%. Então deve chegar a 1,6%, 1,7%”, estima Luiz Roberto Cunha, decano da PUC-Rio. Os bens e serviços administrados pelo governo já subiram praticamente o dobro da inflação acumulada nos primeiros dois meses de 2015: 4,93% contra 2,48% do IPCA. A inflação pressionada deve levar o Comitê de Política Monetária do Banco Central a elevar ainda mais a taxa básica de juros, mas os efeitos de fato sobre os aumentos de preços devem ser limitados
  “Quando você tem uma política fiscal contracionista, a política monetária não precisa ser tão contracionista como foi no passado A discussão de qual vai ser a taxa de juros vai depender de o Congresso aprovar a política fiscal do Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda)”, avaliou o professor Cunha.
 Já Caparoz acredita ser importante que o Banco Central continue sinalizando ao mercado que ainda está comprometido em atuar para fazer a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5% no ano “Mas, de maneira prática, ele tem uma capacidade muito reduzida de fazer isso acontecer. O efeito desse aumento na taxa de juros sobre a inflação vai ser muito pouco. Talvez só convirja (para a meta) em 2017”, cogitou o analista da RC. Tanto Caparoz quando Cunha preveem que a taxa básica de juros, atualmente em 12,75% ao ano, chegue a 13,25%. No entanto, a elevação já ocorre em um cenário de demanda deprimida e atividade fraca.

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