MAIS MÉDICOS: SÃO TOMÉ, EXEMPLO A SER SEGUIDO

     Em uma reportagem da Tribuna do Norte, o município de São Tomé é elogiado e tido como “espelho” (exemplo a ser seguido). No final da reportagem a Tribuna do Norte faz um comparativo entre a cidade de São Tomé e Ceará-Mirim ; no comparativo, São Tomé mostrou porque está entre as 50 melhores do Brasil na saúde. 

Vejam a reportagem na íntegra.

Mais médicos

     Na pesquisa da CNT, 66,8% dos entrevistados acreditam que os médicos estrangeiros estão capacitados para atender à população brasileira. Outro dado da pesquisa revela ainda que 90,6% das pessoas ouvidas não conhecem alguém que tenha sido atendido por um médico estrangeiro do programa. Em São Tomé, município localizado a 101 quilômetros de Natal, os dados seriam diferentes. A comunidade conhece bem o casal de médicos cubanos que chegou ao município através do programa do Governo Federal. Lá, os profissionais são tratados como “salvadores da pátria”. O carinho é retribuído com atendimento qualificado pela população como excelente.

Reinolky Perez Frontela é um dos médicos estrangeiros que está no RN. Diz que ficou surpreso com a acolhida e condições de trabalho de São Tomé

A acolhida e condições de trabalho de São Tomé 

Rotina

    Reinolky Perez Frontela, 35 anos e Maylin Rodriguez Garcia, 37 anos, chegaram ao Brasil no primeiro ciclo de convocações do programa Mais Médicos. Antes do desembarque, imaginavam que iriam para um município menor. Foram surpreendidos por uma calorosa recepção e um ambiente de trabalho bem aprazível. “Esperava por uma cidade menor, com menos recursos. 

   Não foi isso que aconteceu. Não encontrei problema nenhum”, revela Reinolky que, em São Tomé, é conhecido apenas como “Doutor Rei”. O médico atende quatro vezes por semana num posto de saúde localizado no Centro da cidade e reserva as quartas para se deslocar até à zona rural. Como prescreve o Programa Saúde da Família (PSF), o profissional também faz visitas domiciliares aos pacientes. Na última quarta-feira, “Rei” e a equipe do PSF foi à casa do agricultor Francisco das Chagas Dantas, 45 anos. O homem se recupera de uma cirurgia realizada há alguns dias. Aquela era a segunda visita do médico cubano ao paciente.

Idioma


    A língua ainda é uma barreira em certas ocasiões. Durante a visita, por exemplo, o médico recomenda ao paciente que tome “creme de banana” para auxiliar a digestão. O “creme” na verdade é vitamina. O erro logo é corrigido pela técnica de enfermagem Dagmar da Silva. “Mas isso não é problema. No início a gente confundia mais, mas agora está tranquilo. Não vejo problema. Pelo contrário, só tenho elogios para Dr. Rei”, emenda Dagmar. A técnica de enfermagem chega a se emocionar ao elencar uma série de elogios ao médico. “Ele faz um ótimo atendimento. As pessoas adoram. Ele é comunicativo, atencioso, se preocupa. É diferente dos médicos brasileiros que nem olham para o paciente direito”, diz. A língua ainda é entrave para a médica Maylin Garcia. No posto de saúde localizado no bairro de Bela Vista, a médica conta com a ajuda da técnica de enfermagem Maria Josinere. Para facilitar a comunicação, médica e técnica criaram um minidicionário que está sempre à mão. “Tem algumas palavras que ela fala em espanhol e eu não entendo. Ela anota aqui no caderno para facilitar. Achava mais complicado logo quando ela chegou, mas hoje em dia está mais fácil”, diz Josinere.

A médica cubana Maylin Rodriguez Garcia ainda está se adaptando com o idioma, mas conta com ajuda da equipe e pacientes

Alimentação


    Além da língua, a médica teve dificuldades de se habituar com a alimentação. Pratos regionais não agradaram a cubana. “Achei isso bem diferente. Não gosto de tapioca, cuscuz e feijão verde. Outros pratos, não vejo problema”, revela. Maylin sente saudades de Cuba, mas confirma que ficará no Brasil durante os três anos previstos no Mais Médico.




Diagnósticos

     Com relação às doenças, ambos médicos afirmam que casos de hipertensão e diabetes são os mais comuns. “Quando necessário fazer exame, solicito à secretaria. Não falta remédio. As doenças são parecidas com as de Cuba”, afirma Reinolky.
     O casal mora numa casa confortável localizada no Centro de São Tomé. Durante os finais de semana, a dupla preenche o tempo vago assistindo TV, estudando e, eventualmente, em viagens curtas. Foi assim na última edição da Festa do Boi quando o grupo de novos amigos os levaram até Parnamirim. “Também estudamos bastante”, lembra Maylin.

Foto
                                    Moradia dos médicos cubanos em São Tomé
Mais cubanos

     Mais três mil profissionais cubanos já começaram a chegar ao país para ocupar vagas ociosas da segunda etapa do Programa Mais Médicos. O primeiro grupo, de 2.600 médicos, desembarca no Brasil até hoje nas capitais onde vão cursar o módulo de avaliação do programa. Outros 400 chegam na semana seguinte. A previsão é que os médicos comecem a atuar nos municípios em dezembro.


Técnica de enfermagem Maria Josinere criou um minidicionário para facilitar a comunicação com a médica cubana que atende no município



Menos estrutura Ceará-Mirim

   A fachada da casa não revela que ali funciona um posto de saúde. A má impressão do lado de fora é reforçada quando se tem acesso ao imóvel. Buracos no teto, infiltrações, paredes quebradas e lixo infectante armazenado em local inadequado dividem o mesmo espaço com móveis enferrujados, falta de medicamentos, insumos e profissionais desmotivados. Foi esse cenário que os médicos espanhóis encontraram na semana passada, quando começaram, definitivamente, o trabalho no “Mais Médicos” em Ceará-Mirim.


Estrutura

    A falta de estrutura na saúde pública não é novidade para os profissionais brasileiros e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Os médicos do programa que chegaram a Ceará-Mirim disseram que conheciam a realidade brasileira, mas não tinham ideia que seria tão complicado tentar negociar melhorias. Um dos locais de trabalho dos médicos estrangeiros é o posto de saúde São Geraldo, localizado à rua Oito de Dezembro. Lá, a equipe da TRIBUNA DO NORTE encontrou lixo e substância infectante dentro de uma das salas do imóvel. Os móveis estão quebrados, enferrujados e equipe desmotivada. Ceará-Mirim conta com três médicos estrangeiros do programa federal.


Os profissionais que atendem em Ceará-Mirim querem melhores condições de trabalho nos postos

Ajuda de custo

   Problemas como falta de ajuda de custo para moradia e deslocamento para as áreas de atendimento médico são relatados pelos profissionais que trabalham na rede municipal de saúde. Mas, apesar dessas dificuldades, os médicos dizem que não estão arrependidos de embarcar para o Brasil. No entanto, pedem que mudanças sejam feitas para continuar no programa. E questionam o motivo da prefeitura se cadastrar no programa se não há estrutura para atendimento.

Congo

   A pouco mais de dez quilômetros do posto São Geraldo, a realidade é ainda mais dura. Não é a primeira vez que Alcides Maldonado sai da Espanha para trabalhar em outro país. Entre as experiências profissionais, ele passou alguns anos em missão na República do Congo – país africano com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) quase duas vezes pior que o do Brasil. Ao comparar as duas realidades, define: “A África é aqui. Em Ceará Mirim está pior”, enfatiza.
    Para chegar a esse diagnóstico, o médico pondera algumas variáveis. “O Brasil é a sétima potência econômica do mundo. É inadmissível que encontremos situações como essas. Sinto que não há interesse em mudar o cenário”, diz. As “situações” as quais o médico se refere são diversas. Logo que chegou à Ceará Mirim, Alcides mandou fechar dois postos que, segundo ele, não tinham as minímas condições de uso. Num deles, não há água encanada e energia.

Médico espanhol Alcides Maldonato, que já trabalhou no Congo (África), disse que situação de Ceará-Mirim é pior



Medicamentos

   No posto onde atende, faltam medicamentos simples para tratamento de hipertensão e febre, por exemplo. A água distribuída para a população do Projeto Santa Águeda é outra preocupação. “Não há qualquer tipo de tratamento. As crianças estão doentes e não adianta remédio. Tem que tratar a água”, diz. Alcides Maldonado confirma não ter recebido ajuda de custo para hospedagem e alimentação em Ceará Mirim. Por causa disso, o aluguel da casa localizada na praia de Muriu está atrasado. “E já recebi o aviso de que, se não pagar essa semana, serei despejado”, informa. Diante das dificuldades, Alcides decidiu que vai solicitar à organização do programa Mais Médicos a relocação para outro município. “Se não mudarem a situação aqui em Ceará Mirim, vou pedir transferência”.

Situações não foram analisadas

   As denúncias produzidas por alguns médicos do programa federal aqui no RN ainda não foram apuradas pela coordenação do Programa Mais Médicos na Sesap. A secretaria, aliás, não visitou os municípios onde há médicos ligados ao programa. Segundo Hugo Mota, que responde interinamente pela equipe, esse tipo de trabalho será iniciado esta semana.

“Na semana passada, a UFRN [Universidade Federal do Rio Grande do Norte] começou a realizar a supervisão técnica a partir de relatórios. Nós vamos começar um trabalho ainda essa semana”, diz. A secretária de Saúde de Ceará-Mirim não foi encontrada para comentar o assunto e o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) vai apurar outras denúncias envolvendo o programa.


No posto São Geraldo, o lixo infectado fica dentro da sala de atendimento


    De acordo com o presidente do Cremern, Jeancarlo Cavalcante, há informações de que médicos ligados ao programa estão trabalhando em outras unidades de saúde além dos postos do PSF, o que é proibido de acordo com a lei que criou o Mais Médicos. “Soubemos que há médicos trabalhando em regime de plantão em setores de urgência e emergência. Há informação de que isso ocorre em Ceará Mirim”, afirma Jeancarlo.     A reportagem apurou que o mesmo acontece em outros municípios. “Vamos destinar uma equipe para verificar se a denúncia procede e tomar as medidas cabíveis”, acrescentou.

    A reportagem tentou contato com a titular da secretaria de Saúde de Ceará Mirim, Maria Elaine Bezerra. Na manhã da última sexta-feira, a gestora não estava na sede da secretaria. Um funcionário, que não quis se identificar, explicou que ela estava em Natal participando de uma reunião e não tinha hora para chegar na Secretaria. O servidor forneceu o telefone celular do secretário adjunto, Carlos Filho, mas o aparelho encontrava-se desligado.





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